Por Tobias Leenaert (activista, co-fundador da organização Center for Effective Vegan Advocacy (CEVA), co-fundador da organização ProVeg International e autor do livro How to Create a Vegan World: a Pragmatic Approach)
Avaliação da realidade: gostaríamos que toda a gente se tornasse vegana, contudo apenas uma ínfima parte da população o faz.
Não adianta queixarmo-nos ou afirmarmos que todos os que não se tornam veganos são egoístas, não se preocupam, ou são hipócritas.
Para vermos o que poderemos fazer de mais produtivo, observemos as imagens abaixo. O gráfico circular, à esquerda, representa o pequeno número de pessoas dispostas a fazer o esforço relativamente grande que constitui hoje tornar-se vegano. Esse esforço é representado pela encosta íngreme, à direita.
O que a maioria dos ativistas veganos e dos direitos dos animais tentam fazer é alargar a fatia do gráfico aumentando a motivação das pessoas, de modo a que um maior número queira fazer (e faça) o esforço necessário para se tornar vegano:
Isso, por si, não é suficiente para alcançarmos um mundo vegano. Sou um otimista e acredito que, no fundo, a maioria das pessoas se preocupam com os animais e não desejam que sofram. O problema é que não se preocupam o suficiente para estarem dispostas a lidar com demasiados incómodos (ou, o que consideram serem incómodos).
Portanto, para além de aumentarmos a motivação das pessoas também precisamos de… Adivinharam: temos de nos esforçar para tornar a encosta menos íngreme.
Tornarmos a encosta menos íngreme significa criarmos um ambiente que ofereça tantas alternativas veganas – e em que a produção de origem animal seja progressivamente mais difícil – que as pessoas façam um esforço cada vez menor e, assim, precisem de cada vez menos motivação. Quanto mais suave for a encosta / mais amistoso para os veganos for o ambiente, mais pessoas se tornarão veganas.
Algumas só se tornarão veganas quando a situação for esta:
E para um pequeno número de retardatários vai ser preciso que seja assim:
Muitos veganos pensam que é triste e deprimente ser necessário tornarmos as coisas muito mais fáceis para as pessoas fazerem o que é moralmente correto. Consigo empatizar com esse sentimento. Mas, pensem nisto: nós também não nos tornámos veganos única e exclusivamente com base na nossa motivação moral. Também nós precisámos que estivesse disponível um certo número de alternativas, sem as quais poderíamos não nos termos tornado veganos. Podem achar que só precisaram de ouvir a informação certa ou de terem tido os pensamentos certos, mas isso não é verdade: tornaram-se veganos quando tiveram motivação suficiente para subir a encosta. Outros podem-na ter subido quando era ainda muito mais íngreme (na década de 70, por exemplo)
Cada um de nós requer uma inclinação particular da encosta. Muito poucos de nós, ou talvez nenhuns, teriam subido esta encosta:
Muito menos esta:
Tudo é relativo. Fiquem felizes por se terem tornado veganos quando o fizeram. Mas, tenham consciência que houve sempre pessoas a fazê-lo antes de vocês. E não esperem que todos os outros se tornem veganos hoje. Trabalhemos para aumentar a motivação E para tornar as coisas mais fáceis.
Tradução: Sérgio Duarte
Artigo traduzido com a permissão do autor.
Original: http://veganstrategist.org/2017/04/19/would-you-have-gone-vegan-if/